8, 7, 6, 5, 4, 3, 2, 1… agora, como estamos?
Tem essa série que amo demais, Halt and Catch Fire, que é sobre computadores, mas na verdade é sobre pessoas e suas estranhezas e o processo de fazer as pazes com elas. O
resumiu muito bem no grupo dos Valekers: “É tipo o Mad Men da galera dos computadores”. Mas não é só isso.No fim da última temporada é encontrada uma fita que um dos protagonistas (Gordon) gravou pra si. Uma mensagem do passado pro futuro, uma espécie de meditação, uma ferramenta que esse personagem encontrou pra lidar com certas questões. Os trechos que deixo nessa edição são dela e no fim tem a gravação completa em inglês. Passei a gravar áudios pra Ana do futuro depois disso. Falar ajuda a organizar os pensamentos.
É constante meu mecanismo da re-vista, do voltar e pegar, voltar e lembrar, voltar e re-aprender. Re-vejo filmes, re-leio livros, re-vejo fotos, re-ouço álbuns.
Esses dias um artista que gosto muito compartilhou algo que re-verberou em mim; disse que tirava fotos pra não se apegar às situações vividas. Foi a ferramenta que ele encontrou pra combater sua ansiedade de apego aos momentos e sua dificuldade de dizer adeus ou de receber adeus. Que quando tira fotos, transfere a ansiedade do apego para o registro. Algo assim.. deixo aqui a legenda como citação e o link pro post original:
Taking pictures helps me detach.
Growing up, I've always had a strong tendency to cling onto people, things, and events. I've always struggled with detaching myself, saying goodbye, and accepting goodbyes. Until I learned how to take pictures, I feel like whenever I take pictures of something or someone, the burden of holding onto that moment is no longer with me. It's transferred to the photograph, which I can always look at whenever I want to revisit and relive it. 💗
Quando volto, tento re-capturar a Ana que foi impactada da primeira vez, re-encontrar com a estranheza e o espanto de me sentir conectada: ao mundo, às pessoas, ao tempo que não volta, ao contexto que era único e que por vezes deixei passar nas angústias de tentar prever um futuro que fugia ao controle. No presente tenho consciência do que acontecia no passado, mas ainda é difícil estar presente no agora, pois sigo tentando controlar o futuro que vejo daqui.
Feche seus olhos. Alguma coisa está estranha? Porque é assim mesmo.
Sentir-se estranho é… é como você sabe que ainda está aqui.
Estranha e incoerente: é como me senti a vida toda. Despatriada em minha própria terra, estrangeira entre meus pares, deslocada, não pertencente, sem-lugar. Definição que antes gerava sofrimentos e que agora acolho com muito carinho. Não aceitava ter falhas de roteiro, incongruências e estranhezas, ou não pertencer a uma “caixinha” específica dentro das expectativas alheias ou internas. Precisava de um nome que definisse minha sexualidade, meus transtornos psicológicos, minhas tristezas, meus pensamentos cheios de nós, atropelos e ambiguidades. Mas sentir-me estranha é uma forma de saber que eu ainda estou aqui. Essa é a vida: estranheza com pitadas de incoerência. Bom, pelo menos foi essa uma das sínteses a que chegamos na análise dia desses. É a sensação a que me apego ao escrever essas palavras que nem quero publicar, mas vou. No fim, os nomes ajudam a definir algumas rotas, mas não compreendem a complexidade do território. Nem o meu e muito menos o das outras pessoas.
Pego minha lista de ilusões e adiciono a palavra coerência. Decido que não preciso manter uma linha narrativa coerente dentro do espaço que criei para a experimentação e para a busca do que não tem nome mas segue pulsando em mim. Decido também que não preciso me esconder, que posso abraçar o que vem, as críticas inclusive, já que me propus a aprender. Abraço os erros e aprendo a partir deles.
Então, o que for que estiver queimando em você agora, apenas saiba que vai desaparecer. Todo problema parece grande no momento, mas, Gordon, você sabe o que é melhor. Então… concentre-se apenas em ser um ser. E depois, tente olhar para além de seu computador de vez em quando.
Então é isso, VOLTEI. Deixarei de lado as numerações das cartinhas, cansei delas e me perco fácil com números, so it goes. A intenção daqui pra frente é focar nas minhas ficções oníricas, mas nem sempre. Ofereço minhas profundezas e incoerências, além da frequência mensal de publicações. Peço seu tempo e presença para ler minhas palavras. Topa esse acordo?
Percebi que nunca fiz uma “introdução” apropriada nessa newsletter, então vamos lá: eu sou a Ana, uma mulher cis branca de agora 32 anos. Prefiro suprimir o segundo nome e o primeiro sobrenome, então você possivelmente me acha na internet buscando por Ana Pontes. Abandonei o twitter em 2022, e além de participar da MELHOR rede social que a internet pode oferecer: o grupo no whatsapp dos apoiadores da escritora Aline Valek, também estou no instagram (com mil ranços e pouquíssima constância de ~presença~, mas estou lá). Moro com dois gatos (o Idris e a Elba) e tenho por eles um amor que transborda. Eu cozinho, canto, danço, desenho, bordo, toco violão, tiro fotos, ouço meus amigos, ofereço conselhos e opiniões quando solicitada e sou amadora em todas essas coisas, sem vontade alguma de me tornar especialista em alguma delas. Me percebo como pessoa bissexual e não monogâmica, não limitando meu afeto a pessoas cis. Sou uma fã muito fervorosa de Joy Division, David Bowie e Sigur Rós, mas amo música brega e piseiro e tenho me descoberto muito adepta de cúmbia (agradecimentos especiais ao amigo Jaime ❤️). Minha formação acadêmica é em Artes Visuais, com habilitação em Design Gráfico e essa é a profissão que exerço desde 2014. Moro em Brasília há 9 anos, mas sou goiana do pé rachado (entendedores entenderão), amo pequi assim como jiló, gueroba e jurubeba, além de não recusar uma pimentinha (paladar de idosa, já me disseram hehe). Na escrita também sou amadora e prefiro a alcunha de escrevedeira: deixa a coisa mais leve pros meus juízes internos. Essas características não definem nem de longe minha totalidade, mas delineiam um pouco dela.
Agradeço por me ler, nos vemos em setembro!
Um abraço apertado de retorno, Ana.
Que bom te ler novamente, Ana! Também gostei da sua reapresentação, temos muito em comum :) beijocas e te vejo mês que vem por aqui
Que maravilha Ana, cheguei até você no grupo de Aline Valek também, eu tenho acreditado muito nisso sabe? Que mesmo a gente se recolhendo nos cantinhos da internet, a gente sempre se encontra, sempre ve alguém interessante para compartilhar ideias.
Tenho me recolhido de alguns cantos toxicos como o tuiter tb